Biofilia: Conceito + Tendência + Tradução

Biofilia: Conceito + Tendência + Tradução

Biofilia: Conceito + Tendência + Tradução

7 de maio de 2020

O que é Biofilia?

O termo Biofilia foi usado em 1973 pelo psicanalista americano Erich Fromm em The Anatomy of Human Destructiveness, onde descreve a Biofilia como “o amor apaixonado pela vida e por tudo o que está vivo”. O termo foi posteriormente usado pelo biólogo americano Edward O. Wilson em seu trabalho Biophilia (1984), onde propôs que a tendência dos humanos de se concentrar e se associar à natureza e a outras formas de vida tem base genética. Evidências sugerem que os humanos são atraídos por natureza à natureza. A aparência do mundo natural, com toda sua diversidade de formas e cores, é universalmente apreciada e essa apreciação é frequentemente invocada como evidência de biofilia.

Alguns autores sustentam que uma relação intima com a natureza durante a infância seja indispensável para gerar sentimentos positivos, outros defendem ainda, que esta relação é essencial para o desenvolvimento harmonioso da personalidade. De fato a perda de contato com o mundo natural, típica da nossa realidade moderna, pode causar sérios danos no desenvolvimento físico e psíquico das crianças, empobrecendo a capacidade sensorial, a eficácia do pensamento e o desenvolvimento da espiritualidade.

A Biofilia é a tendência inata ao ser humano de concentrar sua atenção sobre todas as formas de vida e todas as lembranças que estas formas estimulam. Essa tendência de amar e cuidar da natureza é influenciada pela fascinação e pela empatia, percebida na capacidade de se identificar afetivamente com as diversas formas de vida e de participar destas condições que o ambiente natural provoca. Este contato, gera identificação com estes elementos, favorecendo o desenvolvimento de laços emotivos e contribuindo para um estado de bem estar físico e psíquico, e para um comportamento com atitudes positivas frente a natureza.

2019: Merzouga Desert | foto: Ronaldo Camara

Existe uma vasta literatura que demostra que de fato, os ambientes naturais são preferidos aos ambientes das cidades. E até mesmo nestes contextos urbanos os ambientes aonde estão presentes a vegetação e a natureza, são preferidos a aqueles que não possuem estes elementos. A importância do contado visual com a Natureza vai além de uma relação puramente estética, muito mais do que isso, inclui numerosos benefícios ao bem estar fisiológico e a regeneração do cansaço e do stress mental.

Acredita-se que os ambientes naturais atraem a atenção involuntária, um tipo de atenção que não necessita de um esforço mental e sim de um estímulo dotado da qualidade fascinante intrínseca. A fascinação é uma característica dos ambientes regenerativos, que oferecem a oportunidade de restabelecer a atenção direta uma vez que esta esteja exaurida.

O Uso simbólico da natureza na linguagem humana e a difusão da reverência espiritual pelos animais e pela natureza nas culturas humanas, em todo mundo são outras fontes de evidência para a Biofilia. Tal experiência espiritual e afiliações generalizadas com metáforas naturais parecem estar enraizadas na história evolutiva da espécie humana, originadas em épocas em que as pessoas viviam em contato muito mais próximo com a natureza do que a maioria hoje.

2012: Fiordes da Noruega | foto: Ila Rosete

A divergência humana em relação ao mundo natural parece ter ocorrido paralelamente ao desenvolvimento tecnológico, com os avanços dados nos séculos XIX e XX tendo seu impacto mais significativo, mudando fundamentalmente as interações humanas com a natureza. Essa separação foi possibilitada pela construção de espaços fechados e relativamente estéreis, de residências a locais de trabalho e carros, nos quais os humanos modernos estavam protegidos dos elementos da natureza.

Outras evidências que denotam a importância desta conexão inata entre seres humanos e natureza vêm de estudos de Biofobia (o medo da natureza), na qual respostas fisiológicas mensuráveis ​​são produzidas após a exposição a um objeto que é a fonte do medo. O medo era uma conexão fundamental com a natureza que possibilitava a sobrevivência e, como resultado, os seres humanos precisavam manter um relacionamento próximo com o meio ambiente, se utilizando dos sentidos como a visão e a audição como pistas vitais. Suspeita-se que o aumento da dependência da espécie humana em relação à tecnologia tenha levado a uma atenuação no desejo humano de se conectar com a natureza. De fato, a perda do desejo de interagir com o mundo natural, resultando em uma diminuição da apreciação pela diversidade de formas de vida que sustentam a sobrevivência humana, foi citada como um fator potencial que contribui para a destruição ambiental e a rápida taxa de extinção de algumas espécies. Assim, restabelecer a conexão humana com a natureza tornou-se um tema importante na no conceito de conservação.

Na Biofilia, Wilson (1994) introduziu uma ética de conservação baseada em múltiplas dimensões da relação inata que os seres humanos compartilham com a natureza. Sua noção de administração ambiental se baseou em vários conceitos, incluindo a dependência prática dos seres humanos da natureza, que se concentra nos serviços ecológicos (por exemplo, água limpa e solo) que a natureza fornece; na satisfação derivada da interação direta com a natureza como através da exploração e desenvolvimento de habilidades ao ar livre;  o apelo físico da natureza, evidente em seu papel como fonte de inspiração e paz; e o apego humano à natureza na forma de conexões emocionais com paisagens e animais. Independente da maneira que os indivíduos sintam ou percebam a Biofilia, se percebe hoje que passar um tempo em contato com a natureza é benéfico para a saúde física e mental humana.

Biofilia: uma forte tendência

Desde 2010 a POBOX design, projetos e consultoria de tendências, vem pesquisando e acompanhando as mudanças nas maneiras que o homem vem desenvolvendo, através dos novos comportamento e modos de vida, na forma de construir e de se apropriar dos espaços interiores contemporâneos. Nesta busca identificamos, entre outras, uma forte inclinação projetual em design e arquitetura aonde o verde se torna materialidade indispensável na composição espacial.

2017: Palmenhaus, Viena – Áustria | foto: Ila Rosete

Em 2016 sintetizamos esta inclinação com a CASA Biofilica: em um muro de concreto pré moldado, o musgo ocupa as fendas e recortes como um aceno a uma necessidade vital de salvar a relação, estremecida, entre o homem e natureza. Nossas cidades concretas e impermeáveis, se tornaram inóspitas para nos receber. Sendo assim nossa saída foi a de trazer a natureza para dentro dos espaços aonde vivemos

2016: Casa Biofilica: Manual tendência da PO Box design

Em 2020 inseridas neste processo contínuo de pesquisas de mudança de comportamento e lifestyle, começamos a identificar a entrada das flores, não apenas em flores, ramalhetes e vasos, mas também através de revestimentos e pinturas as suas formas e cores ganharam os espaços dos lares. Uma alusão às estufas de flores exóticas e coloridas que surgiram no século 19, a partir das pesquisas de plantas e coleções de vários lugares do mundo.

Assim propusemos A CASA Garden: é a casa sensível, invadida pela beleza da natureza e imprime, através de seus elementos compositivos: papeis de parede, tecidos e revestimentos com desenhos florais, o desejo de transformar os ambientes em lugares mais alegres, frescos, perfumados e cheio de vida. Seus espaços são assimétricos, saudáveis, naturais, coloridos e muito frescos pela presença de estampas e plantas para auxiliar no controle e no filtro da temperatura dos interiores.

2020: Casa Garden: Manual de tendência da PO Box design

FRESCOR + PERFUMADA + ECOFRIENDLY + NATURAL + ALTERNATIVA

Hotel Casa Verde

Para regenerar é preciso se colocar em um lugar diferente daquele que causou a fadiga mental, este lugar deverá ser suficiente grande para não ter um confinamento visível e estar em sintonia com a inclinação pessoal do indivíduo.

Projetado para a Cidade de São Paulo, Brasil, o Hotel Casa Verde vem exatamente alinhado com a intenção de criar um espaço para atrair pessoas, famílias, turistas, homens e mulheres de negócios, que procuram um lugar que proporcione uma boa experiência.

2020: Hotel Casa Verde, recepção

A experiência proposta foi a de criar um ambiente que ajudasse as pálpebras cansadas, da vivência de um dia frenético na grande metrópole, a descansar. Um refúgio no final de dia, após a intensa jornada. Um ambiente que acolha, desenhado com elementos que criam a cena de uma paisagem natural. Um jardim, uma estufa, ou um pequeno recorte da imagem da floresta.

2020: Hotel Casa Verde, a praça

Nossa intenção foi a de recriar através do espaço, uma atmosfera de pausa. Proporcionar um desligamento da rotina exaustiva em outra atmosfera; verde, regenerativa, refrescante. Aos nossos hóspedes, é proposto um delicioso banho de piscina, uma corrida ou pedalada nas esteiras e bicicletas ou simplesmente transitar livremente pelos caminhos da grande praça. A ideia é que todos convivam e desfrutem de baixo da sombra da árvore central.

2020: Hotel Casa Verde, a praça

A vasta galhada, cresce e vai ganhando o espaço aéreo criando uma cobertura, um abrigo contra os “perigos” da floresta urbana. Aqui se está protegido e amparado. A pouca luminosidade refletida na grande floresta estampada nas paredes e tetos, garantem o clima de mistério das matas fechadas. A árvore, símbolo da vida,  ascende verticalmente em direção ao céu, o seu tronco, um feixe de tubos de cobre, “plantado” no canteiro central, cria um refrescante sombreamento, para que os nossos hóspedes possam se sentar e comer uma salada de verduras e frutas frescas, um sanduíche leve e  beber um suco de frutas, um chá gelado, uma taça de vinho.  Afinal, não há quem não tenha uma boa lembrança de um divertido piquenique de baixo de uma árvore frondosa. A praça com os seus aromas, cores e formas da natureza tem o desejo de estimular os indivíduos, que aqui escolheram estar, a se permitir um momento de sossego, de acolhimento intimista.

O Hotel Casa Verde foi concebido para receber nossos hóspedes, criando um ambiente que garanta a fruição desta experiência espacial energizante. Um afago a saúde física e mental.

2020: Hotel Casa Verde, a praça