Cultura Caipira
A Cultura mineira é, segundo Darcy Ribeiro, definida como Cultura Caipira. Localizada no Sudeste do Brasil, essa foi a região que se concentraram os estados mais privilegiados, entre eles, Minas Gerais com grande riqueza natural em minérios, foi palco do ciclo do ouro na História do Brasil.
Toda influência europeia que desembarcou no Brasil no período colonial, acabou por adquirir características locais, como materiais e tecnologias bem mais simples que as peças europeias possuíam. Essa adaptação se dá em vários momentos entre o século 16 até o início do século XX. O estilo Barroco foi seguido pelo estilo Rococó e teve em Minas Gerais a maior concentração de obras significativas desse período.
A manifestação do Barroco estava intimamente entrelaçada com o Catolicismo no Brasil. Portanto, a existência de símbolos católicos na arte mineira está presente nos oratórios, nas imagens sacras em pedra-sabão, cerâmica ou madeira policromada com ornamentos de manifestação artesanal e ingênua.
No século XVI chegaram, junto com várias outras peças, os contadores renascentistas, neles eram guardados documentos pessoais e dinheiro. Essa peça sofreu uma adaptação de uso, dando origem ao oratório. Em Minas Gerais, o artesanato fechou essa relação com os ícones religiosos ao criar a mandala com o divino, o espírito santo centralizado em um disco ornamentado.
Os primeiros móveis trazidos pelos colonizadores serviam para ocupar os interiores das igrejas, das fortificações e dos edifícios públicos. A coleção era composta por inúmeros baús, arcas, bancos, mesas e raras cadeiras, e chegaram aqui, com a primeira ordem religiosa, os jesuítas espanhóis que tinham como função catequizar os indígenas, amenizando a relação entre os nativos e os portugueses. Os baús, as mesas longas, os bancos corridos de madeira bruta continuam presentes nos interiores mineiros
No final do século 16, com os assentamentos mais longos e o aparecimento das fazendas e engenhos de açúcar, principalmente no Nordeste, ocorre um aumento gradativo de mobiliário doméstico, na sua maioria produzida em Portugal, porém, artesãos portugueses presentes no Brasil iniciam uma produção alinhada as condições locais, utilizando madeiras nativas e ferramentas adaptadas, criando-se neste momento, os primeiros exemplos de móveis nacionais, desenhados a partir dos exemplares portugueses.
Vários contadores e arcas foram trazidos das colônias portuguesas na África e Oriente. Suas superfícies são trabalhadas com baixos relevos geométricos como escarificados ou rendilhado no estilo indiano ou indo português.
Um típico armário retangular português continua presente nos interiores mineiros, trata-se de um armário dividido no centro formando duas partes iguais, com portas de duas folhas, tendo algumas vezes gavetas na linha central.
O Barroco e o Rococó foram os estilos interpretados pelo marceneiro português, presente no Brasil, estilos familiares trazidos de sua terra natal, no início do século XVIII. Marcaram a casa mineira e grande parte do Sudeste e do Nordeste. O Barroco expressado por grandes proporções e rigor nos entalhes. O Rococó deu continuidade a todo um conjunto de sinuosidade e profusão de formas assimétricas. Ao longo da história da região, somaram-se móveis de terras distantes, como a cultura francesa e a inglesa.
A casa mineira, sob influência das primeiras formações do espaço doméstico, privilegia a cozinha e os espaços para a convivência, mantendo larga área de passagem. Os espaços são despojados, mas carregados de uma vasta coleção de símbolos da cultura resultante da soma da releitura dos estilos Barroco e Rococó e do artesanato feitos com matérias primas minerais e vegetais.
Considerando essas heranças, a P.O. Box design retoma a cultura caipira e toda a soma de outras culturas que se encontram nessa casa acolhedora de costumes prazerosos, principalmente os que celebram a reunião ao redor de uma mesa e a degustação dos prazeres gastronômicos.
Provence Tropical
A topografia mineira é bastante acidentada, sendo que alguns dos picos mais altos do país encontram-se em seu território. Sua fauna e flora se distribuem pela Mata Atlântica. Ela resguarda uma rica cultura expandida durante as explorações de minérios entre os séculos XVII e XIX. Sua produção artesanal confere distinção por manter um diálogo com o design. A nobreza dos móveis europeus foram referência para uma vasta coleção de móveis e objetos sacros. A releitura do mobiliário doméstico possui os traços do barroco e do rococó, de feitura bruta e robusta, lembrando as peças da e região da Provence, sul da França que reproduziram da mesma forma, os nobres estilos franceses.
Visitando a Região da Provence, no sul da França, percebemos, uma forte proximidade estética, no cuidado compositivo dos interiores e modos de vida dessa região, tanto na produção dos objetos, como também no apreço por manter toda cultura e tradição na vida cotidiana.
O estilo provençal produz móveis que misturam madeira e ferro, como também os vários objetos esculpidos em madeira de forma espontânea, com uma temática doméstica como pássaros, insetos, frutas, flores, etc. Também encontramos um paralelo entre essa produção francesa e a mineira.
O estilo mineiro sob o título de Provence Tropical é a tendência que busca o despojamento e a receptividade da casa tradicional mineira, carregada de elementos de memória e identidade. A tradição entrelaça estilo, design e cotidiano nos interiores que são compostos por peças ímpares produzidas artesanalmente e em pouca quantidade. As superfícies são compostas por várias técnicas artesanais que reúne o handmade tradicional em composição com elementos contemporâneos, elementos ornamentais e madeiras policromadas.
Matéria Compositiva:
pedra + cerâmica + ferro + madeira + algodão + linho + artesanato + superfícies irregulares + peças únicas + assimetria
Referências bibliográficas:
RIBEIRO, Darcy. O Povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo, Companhia das letras, 1995.